quarta-feira, 10 de março de 2010

Alma

Á noite,
quando o sol se esconde,
minha alma voa longe.
Entre ruas, becos e estradas,

ela segue em frente,
rumo ao horizonte.
Só leva no bolso a solidão.
Vagando entre corredores,

que parecem labirintos,
restam vestígios de um coração.
Sem saber aonde ela vai,
eu me sinto só;
perdido.

Mas no outro dia,
logo quando acordo,
não sinto mais o vazio.
É quando tudo faz sentido,
era somente a escolha,
de um outro novo destino.

Nossos Passos

Enquanto o baile de mascaras continuava, eu permanecia ali, parado, com uma garrafa de uísque na mesa cercado de rostos estranhos. Acompanhando os olhares eu tentava decifrar seus enigmas, histórias, dores e ambições. Quando menos percebia uma pergunta vinha à cabeça: como havia chegado naquele lugar?

Lembrara que numa madrugada chuvosa havia conhecido uma dama de vermelho, a qual mal quis saber meu nome e me convidou para uma festa as escuras.

A cada gole daquela bebida eu acompanhava o ponteiro do relógio que parecia não sair do lugar, talvez aquilo fosse um sinal de que o amanhecer estava longe de vir e a noite se tornara cada vez mais noite.

Pela janela as estrelas e a lua pareciam dançar uma valsa, como aquelas de garotas comemorando o aniversário de quinze anos. No entanto, eu não deixava de perceber que do outro lado você dançava a um passo.

Em meio a risadas exageradas, por entre os cantos da sala, os personagens se divertiam embalados pelo cenário de aparências; com homens elegantes, mulheres sedutoras e, do lado de fora, era possível observar a serra ser tocada pela névoa lá no horizonte.

Saí na varanda e perto do corredor havia algumas pessoas tomando taças de vinho e se aquecendo em volta de uma lareira.
Notei que todos aqueles detalhes sempre estavam presentes no meu inconsciente, mas eu só queria estar do outro lado dançando também a um passo.

Aquele Uísque barato parecia não fazer o efeito esperado, a única certeza que eu tinha era da amnésia e a dor de cabeça no outro dia. O baile de mascaras tem uma magia especial, pois todos têm algo incomum, que é o esconderijo de todas as faces. Os momentos mais aguardados da festa são aqueles em que as mascaras caem e todo mistério é revelado.

Eis que avisto a dama de vermelho, a anfitriã daquela festa. E ela usava o mesmo vestido do dia em que a conheci, mas passei desapercebido, pois as mascaras ainda não haviam caído.

Do outro lado enquanto você dançava percebi que os teus olhos acompanhavam os meus;
pensei que fosse o efeito do uísque, mas estava enganado;
naquele momento eu só precisava de uma dança.

Foi quando caminhei por entre os convidados e cheguei até você.
De repente as luzes se acenderam, e, em fim, a dama de vermelho anunciara o momento das mascaras caírem. Acabei me distraindo com o anúncio, pois ela fazia um discurso intrigante e, ao mesmo tempo, transformava as palavras numa obra de arte.
Quando retornei de volta a minha cena você já não estava mais lá. Assim olhei no final do corredor e vi uma parte de seu vestido flutuar entre o canto da porta. Desci as escadas que pareciam não ter mais fim, e, no último degrau, você me esperava.

Foi quando ainda de mascaras nossas mãos se entrelaçaram e nossos corpos se movimentaram com passos combinados.

Logo depois de um beijo cinematográfico ouço uma voz gritando: Corta, corta!
O diretor se levanta de uma cadeira majestosa, impunha o megafone na mão direita, e grita: “É isso mesmo gente, esplêndido. Amanhã retornaremos de onde paramos, pois ainda temos muito trabalho pela frente”.

Saí do meu personagem e voltei ao mundo real. Pouco, a pouco, o cenário foi sendo desmontado, os atores foram saindo de cena, os cigarros e toda aquela comida de mentira foram retirados. Todos estavam satisfeitos, pois mais linhas foram acrescentadas no roteiro. Porém, independente de todas as inverdades e disfarces;

eu posso dizer que sim;

foi por um único momento, mas um dia nós unimos nossos passos.