sexta-feira, 23 de abril de 2010

Longe demais

Em toda minha vida sempre acabei indo longe demais. Escorreguei por entre encanamentos numa jornada sem fim. Enquanto navegava com meu barco sobre poças de água encontrei o esconderijo do amor. Ele estava num beco sem saída, num caminho escuro e estreito, aonde não se podia enxergar quase nada.

Não consigo descrevê-lo, pois ele não tem forma, nem tamanho, nem aparência ou sentido, só é apenas pensamento sem razão.
Talvez eu seja louco em dizer que o conheci. Mas em fim, um dia ele cruzou meu caminho. Sussurrava aos meus ouvidos palavras difíceis de entender com uma voz serena e tranquila.

Asseguro-lhes, que o mistério faz parte de sua magia.
Só pude alcança-lo depois de atravessar abrigos nebulosos.

Durante a aventura travei batalhas com monstros terríveis;
Libertei princesas de castelos,
quebrei encantos,
vivi amores eternos.

Nas noites frias dormia pensando neles;
Só queria repousar num ninho e me aquecer novamente.
Percorri uma estrada que parecia não ter fim e suas curvas me excitavam a correr cada vez mais.

Quando percebi, já estava longe demais.
Me distanciei tanto de mim caminhando por vielas sem direção, que me perdi no tempo. Apenas sinto falta das coisas que já não posso tocar, das coisas que não estão ao alcance de minhas mãos, que não fazem parte do mundo da matéria.

São sentimentos e sensações que se enroscaram no véu do esquecimento.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Minha Insensatez

Olho no espelho e vejo uma pessoa parecida comigo, mas não totalmente, pois seus movimentos são diferentes dos meus.
Enquanto caminho de um lado para o outro, ela segue me imitando com toda a sua calma. Repete tudo que faço ao lado contrário.

Quando me distancio, ela se afasta,
Se me aproximo, ela se aconchega,
Se me distraio não vejo nada.

Forço o olhar apertando meus olhos, e pergunto-me:
Além de se parecer comigo será que ela sente o mesmo que sinto?
Parece-me impossível, pois não ouço sua voz, só enxergo uma figura intima. Os seus gestos são o que vejo entre papeis de parede.

O espelho reflete as imagens do lado de fora,
mas um olhar aflito sai de dentro do mundo de vidro.

Um certo alguém está preso no tempo e no espaço, limitado a movimentos de um mundo abstrato, e só acompanha o perfil de um alguém com vida.

Encaro-me novamente;
e aos poucos o reflexo desaparece, lentamente.
É como um incêndio que vira chama, depois se torna uma pequena fagulha e no fim acaba em cinzas.

Respiro involuntariamente em frente ao espelho;
que fica embaçado,
com o dedo vou escrevendo meus pensamentos insensatos.
Em versos escritos com letras de mão posso ver nitidamente a limpidez em linhas de sentimento.

Finalmente observo meu reflexo no espelho.